AOS MESTRES

Quando pensamos na nobreza do ato de ensinar, de transmitir não somente informações técnicas mas a experiência e a vivência em determinados assuntos, entendemos que a palavra "mestra" está envolta em um grande mistério: o de transformar jovens, que, fortalecidos por um único ideal, se tornam homens conscientes de si mesmos e do seu dever.

Foram quatro anos de estudos: de Cálculo I a Aerodinâmica e Tráfego Aéreo; de Filosofia a Psicologia Social e Sociologia. Passamos por uma vasta gama de "disciplinas" que são a base intelectual do oficial da FAB.

Nós, as Águias, somos bastante agradecidos e, podemos dizer, até orgulhosos pela vitória da Divisão de Ensino (representada particularmente pelos mestres), cumprindo a sua missão de formar Líderes que conheçam com intimidade o significado da frase: "0 vôo do homem através da vida é sustentado pela força de seus conhecimentos".

Sim, a missão foi cumprida, e as Águias, outrora discípulos e agora mestres, reconhecem e admiram o carinho, a dedicação e o trabalho que nos prestaram. A nossa dívida com os professores e todos aqueles que participaram direta ou indiretamente na nossa formação é imensurável.

O nosso vôo é seguro - pois é bem fundamentado - e nós procuraremos ser perfeitos. É este o nosso compromisso.



Aspirantes,

No dia de partirem, eís-me, professor, mais uma vez com vocês. Talvez me julguem impertinente, a tentar ministrar-lhes a última lição, e alimentem a expectativa de receber, de quem exigiu tanto em redações, um primor de mensagem, palavras belas para somar novos saberes aos das jovens águias prestes a deixar o ninho Talvez possam vocês, até, conjecturar também que tenho rotas seguras, caminhos do sucesso fácil para lhes apontar.

Não gostaria de desapontá-los, mas, se assim esperam, sinto frustrá-los. Pouco posso dizer-lhes além daquilo que já ouviram e nos limites do que estão dispostos a aceitar neste clima de euforia ante uma vida novo e promissora, num momento em que, aspirantes, mal se bastam para os abraços e elogios. Acresce, no entanto, dizer, parafraseando Rilke, que nem tudo é traduzível em palavras,- muitas coisas acontecem num espaço em que nenhuma palavra jamais incursionou.
E reconhecer a existência desse mistério tomo-se particularmente doloroso aquele que ousa trabalhar com palavras, estéril luta no mais das vezes, não obstante renovar-se a cada dia não menos insana.

Algum de vocês então dirá: "Se não lhe vêm os palavras, mostremos então os bons caminhos que suas cós experimentaram!" Mais uma vez, temo desconcertá-los, empanar-lhes o sorriso largo e o olhar expectante, estampados em rostos joviais, porque, sob pena de incorrer em ridículo, não se apontam caminhos, eles não se acham prontos para ninguém. Cada qual deve abrir o seu,- este, a custo de dor e trabalho penoso, aquele, mais venturoso, com menos esforço talvez,- um, rasgando sofrida e tortuosa vereda,- outro, abrindo facilmente larga e segura via,- mas uns e outros tendo de passar inexoravelmente por essa prova de real vivência humana, se pretenderem imprimir um mínimo de dignidade à existência.

Julgando-os aptos a esse desempenho, estou seguro de que vocês saberão fazer os próprios caminhos. Percebo, por trás de sua postura e atitudes, o respaldo do otimismo e da autoconfiança, virtudes embasados não apenas no vigor da mocidade, mas, sobretudo, no realista e segura formação acadêmica. Concretizado o ideal tantas vezes acalentado, vocês partem para o futuro, legando aos mestres a serena convicção de que o honesto convívio universitário gera bons frutos; aos seus chefes, a certeza de que compensa investir no jovem brasileiro,- à Força, a confiança em que estão nossas fronteiras e instituições seguras sob a vigilância de profissionais capazes e audazes.

Está claro, contudo, que apenas o profissionalismo não basta. Acredito que esses árduos anos de Academia tenham sido mal aproveitados, se o resultado deles se tenho concentrado na exclusiva formação do técnico, ainda que o mais competente. Teria sido muito pouco, porque se pretende muito mais, ou seja: quer-se a formação integral do homem, homem que saiba servir-se da técnica, sem colocar-se a serviço dela. Por trás dessa insígnia que doura o orgulhoso peito do militar treinado para as manobras de uma arma de guerra letal, quer-se que palpite o coração de uma criatura humana no dimensão mais elevada, capaz de, numa tarde de mormaço, interessar-se por minúscula formiga que se equilibra na fino borda de uma xícara, enquanto deliba a quinta-essência da vida num resíduo de café.

Assim, ainda que não possa fugir do tom professarei, inevitável cacoete da profissão, por um lado, exorto-os a se projetarem "para frente e para o alto", rechaçando, pelo poder dessa espada que empunham intimorata, quem quer que ouse desafiá-lo; por outro lado, concito-os a um mergulho para dentro de si mesmos, para encontrar, no âmago mais profundo, a verdadeiro identidade humana, sob cuja égide também rechaçarão outro inimigo traiçoeiro: a soberba.

Sejam felizes! Até breve!

Prof Quintino



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